quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A influência dos bairros nos novos edifícios e apartamentos!


A arquiteta Renata Marques comenta a presença da “cultura tribal” nos projetos que surgem na cidade de São Paulo.
03/08/10, São Paulo, SP – Os lugares que caracterizam as cidades não são apenas o pano de fundo de moradias. Impregnados pela cultura dos primeiros moradores a chegar, os bairros “espiam” os novos habitantes e lhes dão boas vindas, desde que tenham sido escolhidos para moradia de quem “se parece” com eles. E quem chega primeiro no nosso pretendido novo bairro? Chegam os incorporadores, as construtoras, arquitetos, paisagistas e mais um batalhão de profissionais que não nos conhecem, mas têm a missão de oferecer um produto (o edifício, o aparato de lazer e, principalmente, o apartamento) que nos agrade.

Quando um investimento de milhões de reais está em jogo, é de acatar imediatamente que o nosso futuro apartamento não será desenhado a partir de uma olhadela na bola de cristal. Então, vale o quê? Vale o nosso perfil coletivo, conforme faz entender a arquiteta paulistana Renata Marques.

É óbvio que os núcleos urbanos, “seres vivos” em constante evolução, se transformam com o passar do tempo, mas o tempo do aqui e agora é que nos chama a morar, conforme a arquiteta. “Alguns lugares são reconhecidos pela vida noturna agitada, outros pela variedade gastronômica ou cultural, ou ainda pelas opções de lazer para crianças. É bastante interessante a relação estabelecida entre a cultura e o estilo de vida dos moradores, fator que influencia diretamente no desenho dos empreendimentos imobiliários e, em especial, na planta dos apartamentos”, comenta.
Tatuapé e MoocaSegundo a arquiteta, “o projeto que cria as plantas de casas e apartamentos reflete as necessidades e costumes de cada cultura ou estilo de vida. Por exemplo, em bairros com forte influência de imigrantes portugueses e italianos, as áreas de convivência na moradia, como cozinhas e salas, são muito valorizadas”, diz, e acrescenta que empreendimentos nos bairros Tatuapé e Móoca refletem tais características.

“Originalmente, esses bairros eram, em grande parte, ocupados por casas espaçosas, com jardim, quintal, cozinhas e salas amplas, para receber os familiares. Os descendentes desses pioneiros têm prazer em cozinhar e gostam de estar próximos a família. Certamente, valorizam apartamentos com espaços que fazem parte das suas culturas”, aponta.

A arquiteta diz que a região compreendida por Tatuapé e Mooca, a exemplo do que ocorre em outros bairros paulistanos, vive um 
boom imobiliário com grande componente de verticalização, mas há uma preocupação em não descaracterizar o estilo de vida que ali se faz presente.

“Um número significativo de famílias não necessitam de apartamentos com muitos quartos, porque os filhos já não moram com os pais. Porém, uma única vaga de garagem não resolve, porque há a preocupação com o conforto das visitas. Os novos empreendimentos são pensados sob esta ótica”.

Renata Marques comenta que as áreas externas dos apartamentos também são pensadas para atender a tradição. “A sacada tem muita importância, oferece o conforto de estar ao ar livre, como nos quintais e jardins, ainda que dentro do apartamento”.
Bela Vista, Liberdade e PerdizesEm outra direção, na região central de São Paulo, comenta Renata Marques, a Bela Vista é de solteiros, recém-casados, descasados, intelectuais, e por aí vai. “Bairros como a Bela Vista estão recebendo muitos empreendimentos em forma de estúdio – apenas um grande cômodo, com todos os ambientes integrados. Na verdade, uma solução contemporânea para quem aprecia a efervescente vida cultural da região”.

De acordo com a arquiteta, nos imóveis voltados para os jovens é forte a presença da flexibilidade de layout. “Tudo é muito prático. Por exemplo, os apartamentos não têm lavanderia e a área de serviço é conjunta”.

“Na Liberdade, o diferencial pode ser notado no estilo das construções, que lembram a arquitetura oriental, onde se observa desde os telhados inclinados em estilo japonês, até influencias culturais, seguindo as orientações do Feng Shui. Em Perdizes, na zona Oeste, construções antigas dão lugar a apartamentos mais modernos e seguros”, diz ela.

A arquiteta acrescenta que, independente do estilo preconizado, os espaços gourmet e as cozinhas ganham, a cada vez, importância maior, porque funcionam como espaços de convivência. “É um reflexo da cultura da culinária, que vem expandindo no Brasil sob forte influência dos franceses e italianos. O brasileiro vem descobrindo o prazer de cozinhar, de experimentar novos pratos e, principalmente, vivenciar este processo”, finaliza a arquiteta Renata Marques

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